O Homem e o Dinheiro | Jacques Ellul

Este livro que ele escreveu sobre os cristãos e o dinheiro traz essa proposta provocativa. Mesmo chegando com trinta anos de atraso, como ele mesmo escreve em sua apresentação em 1979, “muita coisa mudou na aparência, mas pouca na realidade”. Nunca foi fácil escrever sobre este tema, mesmo sabendo que Jesus fala sobre ele em diferentes ocasiões, ainda temos muita dificuldade de considerá-lo com a mesma radicalidade que Jesus o considerou. Uma das grandes contribuições de Ellul nesta obra é a forma como ele toma a sério as palavras de Jesus que personifica o dinheiro como Mamon, um deus ou um ídolo, um poder do qual necessitamos ser libertos. Para muitos, o dinheiro é um bem necessário sem valor intrínseco, moralmente neutro. Para Ellul, o dinheiro não é um bem moralmente neutro, é um poder que tem sua própria lei e determina a forma como o ser humano vive. Para ele, quando Jesus personifica o dinheiro como um deus (Mamon), ele não está usando uma mera figura de retórica, mas apontando para uma realidade. Sendo Deus uma pessoa e Mamon sendo apresentado por Jesus como uma pessoa, os dois encontram-se em conflito; Mamon pode ser um senhor tanto quanto Deus. Afirmamos que nós usamos o dinheiro, para Ellul é ele quem nos usa e nos transforma em seus servos subjugando-nos às suas regras e suas leis; para ele só existe uma forma de profanar esta divindade que reclama sobre nós o direito de governar nossas vidas, é o ato de doar. Para ele o dinheiro pode ser guardado apenas para propósitos definidos. Ellul sempre foi um entusiasta da doação, é uma forma de manifestar a graça de Deus no mundo e na sociedade. Este livro, talvez, trará mais perguntas do que respostas, mas sua leitura certamente nos apontará um novo caminho, com menos ansiedade, mais liberdade e, sobretudo, mais graça. Como disse, Ellul é provocativo, instigante e questionador, mas nos provoca a sermos mais coerentes e consistentes, nos instiga a pensar seriamente e questiona nossos conceitos culturais.